28.9.05
Os Quatro da «Esquerda» contra o tenebroso da «Direita»
Depois de aqui ter escrito sobre a candidatura de Soares às Presidenciais de Janeiro de 2006, eis que surge mais uma da mesma área política, igualmente desejosa de derrotar a «tenebrosa candidadura da Direita», de Cavaco Silva, que, de resto, ainda não formalizou até agora a sua presuntiva pretensão, ominosa, por certo.
Se acaso o não viesse a fazer, o que não parece crível, teria já inutilizado torrentes de discursos exacerbados, virulentos, indignados, que os outros quatro candidatos da margem esquerda lhe vêm fazendo. Além de que ficariam sem programa e sem inspiração para o futuro.
Vendo bem, talvez o que eles sintam ou queiram dizer é que virá, com Cavaco, o Fascismo redivivo, agora sem botas, nem polainitos, ao gosto de Salazar, mas, ainda assim, um vero fascismo, mesmo que disfarçado de moderna competência económico-financeira.
Este número de amedrontar o povo com o retorno do Fascismo, já fracassou há quatro anos, para a Câmara de Lisboa, ganha pelo elegante Santana, que de fascista nada tinha, pese a sua desastrada orientação, mais vocacionada para festas e outras cerimónias de salão.
Um pouco mais de imaginação e de senso nestas cabeças coroadas do nosso anti-fascismo não seria desadequado, para lhes lembrar que nesse peditório do regresso do perigo negro, da longa noite, já se deu bastante nos idos de 1974-75.
Demais, hoje, Bruxelas nem autoriza tais absurdidades, tão votada que está à causa da propagação e defesa da Democracia, aqui em Portugal, em África, na América Latina, como no Iraque, com excepção talvez das bandas da China, país com quem parece revelar maior compreensão, pela sua particular idiossincrasia.
Aguardemos, pois, pela retoma do juízo democrático naquelas privilegiadas cabeças...
Note-se que, apesar do que fica dito, não sou grande entusiasta da presumível candidatura de Cavaco Silva. Mas, quando a tramontana anda perdida, não é aceitável a indiferença...
AV_Lisboa, 27 de Setembro de 2005
Se acaso o não viesse a fazer, o que não parece crível, teria já inutilizado torrentes de discursos exacerbados, virulentos, indignados, que os outros quatro candidatos da margem esquerda lhe vêm fazendo. Além de que ficariam sem programa e sem inspiração para o futuro.
Vendo bem, talvez o que eles sintam ou queiram dizer é que virá, com Cavaco, o Fascismo redivivo, agora sem botas, nem polainitos, ao gosto de Salazar, mas, ainda assim, um vero fascismo, mesmo que disfarçado de moderna competência económico-financeira.
Este número de amedrontar o povo com o retorno do Fascismo, já fracassou há quatro anos, para a Câmara de Lisboa, ganha pelo elegante Santana, que de fascista nada tinha, pese a sua desastrada orientação, mais vocacionada para festas e outras cerimónias de salão.
Um pouco mais de imaginação e de senso nestas cabeças coroadas do nosso anti-fascismo não seria desadequado, para lhes lembrar que nesse peditório do regresso do perigo negro, da longa noite, já se deu bastante nos idos de 1974-75.
Demais, hoje, Bruxelas nem autoriza tais absurdidades, tão votada que está à causa da propagação e defesa da Democracia, aqui em Portugal, em África, na América Latina, como no Iraque, com excepção talvez das bandas da China, país com quem parece revelar maior compreensão, pela sua particular idiossincrasia.
Aguardemos, pois, pela retoma do juízo democrático naquelas privilegiadas cabeças...
Note-se que, apesar do que fica dito, não sou grande entusiasta da presumível candidatura de Cavaco Silva. Mas, quando a tramontana anda perdida, não é aceitável a indiferença...
AV_Lisboa, 27 de Setembro de 2005
27.9.05
A Justiça mesmo Cega e a Democracia parodiada
Do triste episódio protagonizado por Fátima Felgueiras, a nossa suposta Evita, regressada do Brasil, já se disse praticamente tudo e, no entanto, tudo o que se diga é pouco : fica sempre algo para acrescentar.
Valeu bem a pena, a esta «Presidenta do Povo de Felgueiras», ter-se raspado para o Brasil, antecipando-se a uma ordem de prisão, por 23 crimes cometidos no exercício de cargos públicos, como o que ela desempenhava, à frente do Município de Felgueiras.
Depois de dois anos na cidade maravilhosa, ei-la de tez tisnada, cheia de verve, alteando a voz, ainda irada, com a pouca cortesia da recepção.
A tramóia andou bem montada, porque a juíza que apreciou o caso foi muito lesta e compreensiva, mandando-a aguardar em liberdade o dia do julgamento. E a nossa Evita lá vai, logo de seguida, e avança com a sua nova candidatura às eleições autárquicas do próximo dia 9 de Outubro. Tudo legal, normal e democrático.
Abençoado regime que de «tão democrático» cada vez enoja mais os cidadãos, com a permissividade com que trata tanto figurão, neste caso, figurona, se a Gramática permite a flexão de género do termo popular. E ainda falta confirmar se a direcção do Partido Socialista ou alguém do Governo colaboraram no imbróglio.
Dentro de alguns anos, quem fizer o balanço das conquistas democráticas há-de certamente registar estes edificantes episódios.
Aos poucos, os cidadãos vão perdendo o respeito e a confiança no regime todo e já não apenas neste ou naquele político, porque tudo vai ficando minado, a começar pela Justiça, que não funciona ou funciona a contento de meliantes comprovados, mas com dinheiro suficiente para alimentar habilidosos advogados, que tratam de os pôr a salvo das imensas trafulhices praticadas.
O povo assiste a tanto episódio indecoroso entre estonteado e descrente, desinteressando-se cada vez mais da Política, que vê como uma actividade de espertos, rufias, vivaços, sabidos e videirinhos que lá vão levando a água ao seu moinho das prebendas e das sinecuras, enriquecendo ou gozando das delícias da vida, enquanto ele pena, por emprego, por assistência social, por saúde, por educação, que vai vendo por um canudo comprido por de mais.
Como se mostram actuais as crónicas do Eça e do Ramalho de 1871, como a recente publicação de «Uma Campanha Alegre», pela perspicaz Maria Filomena Mónica, teve o mérito de nos fazer recordar, levando-nos outra vez a ler tantas páginas duras, de crítica acerba à sociedade do tempo, afinal tão verdadeiramente actual.
Mais de 130 anos depois, voltamos a identificar os personagens tão bem retratados por Eça, igualmente desaforados, gordos e impantes, pela impunidade com que se passeiam pelos salões, pelas festivas celebrações sociais ou ante as solícitas câmaras de televisão.
Com a degradação política que se observa, a Democracia torna-se uma brincadeira, uma fantochada, achincalhada pela turba de medíocres triunfantes, bêbedos de tanto sucesso, como se consideram a si mesmos pelos padrões erigidos por outros tunantes bem sucedidos como eles.
Como sairemos disto, não me parece fácil entrevê-lo, sobretudo quando não se descobre ânimo suficiente entre os cidadãos ainda não completamentes desistentes.
Se nada de positivo acontecer, no plano social, corremos o risco de ver continuamente crescer o número dos desistentes e engrossar o dos cínicos, transformando a prazo, não muito longo, a presente sociedade numa impiedosa selva, com a vitória do pragmático princípio : a cada um, segundo o seu sucesso, pelo seu desembaraço e pela sua desfaçatez.
Quem estará assim disposto a combater por esta Democracia de festejados pimpões ?
Ai, os espectros da Primeira República ; ai, a História a repetir-se, como farsa ou como tragédia...
Ai, Portugal, Portugal... ainda voltas a Condado !
AV_Lisboa, 27 de Setembro de 2005
Valeu bem a pena, a esta «Presidenta do Povo de Felgueiras», ter-se raspado para o Brasil, antecipando-se a uma ordem de prisão, por 23 crimes cometidos no exercício de cargos públicos, como o que ela desempenhava, à frente do Município de Felgueiras.
Depois de dois anos na cidade maravilhosa, ei-la de tez tisnada, cheia de verve, alteando a voz, ainda irada, com a pouca cortesia da recepção.
A tramóia andou bem montada, porque a juíza que apreciou o caso foi muito lesta e compreensiva, mandando-a aguardar em liberdade o dia do julgamento. E a nossa Evita lá vai, logo de seguida, e avança com a sua nova candidatura às eleições autárquicas do próximo dia 9 de Outubro. Tudo legal, normal e democrático.
Abençoado regime que de «tão democrático» cada vez enoja mais os cidadãos, com a permissividade com que trata tanto figurão, neste caso, figurona, se a Gramática permite a flexão de género do termo popular. E ainda falta confirmar se a direcção do Partido Socialista ou alguém do Governo colaboraram no imbróglio.
Dentro de alguns anos, quem fizer o balanço das conquistas democráticas há-de certamente registar estes edificantes episódios.
Aos poucos, os cidadãos vão perdendo o respeito e a confiança no regime todo e já não apenas neste ou naquele político, porque tudo vai ficando minado, a começar pela Justiça, que não funciona ou funciona a contento de meliantes comprovados, mas com dinheiro suficiente para alimentar habilidosos advogados, que tratam de os pôr a salvo das imensas trafulhices praticadas.
O povo assiste a tanto episódio indecoroso entre estonteado e descrente, desinteressando-se cada vez mais da Política, que vê como uma actividade de espertos, rufias, vivaços, sabidos e videirinhos que lá vão levando a água ao seu moinho das prebendas e das sinecuras, enriquecendo ou gozando das delícias da vida, enquanto ele pena, por emprego, por assistência social, por saúde, por educação, que vai vendo por um canudo comprido por de mais.
Como se mostram actuais as crónicas do Eça e do Ramalho de 1871, como a recente publicação de «Uma Campanha Alegre», pela perspicaz Maria Filomena Mónica, teve o mérito de nos fazer recordar, levando-nos outra vez a ler tantas páginas duras, de crítica acerba à sociedade do tempo, afinal tão verdadeiramente actual.
Mais de 130 anos depois, voltamos a identificar os personagens tão bem retratados por Eça, igualmente desaforados, gordos e impantes, pela impunidade com que se passeiam pelos salões, pelas festivas celebrações sociais ou ante as solícitas câmaras de televisão.
Com a degradação política que se observa, a Democracia torna-se uma brincadeira, uma fantochada, achincalhada pela turba de medíocres triunfantes, bêbedos de tanto sucesso, como se consideram a si mesmos pelos padrões erigidos por outros tunantes bem sucedidos como eles.
Como sairemos disto, não me parece fácil entrevê-lo, sobretudo quando não se descobre ânimo suficiente entre os cidadãos ainda não completamentes desistentes.
Se nada de positivo acontecer, no plano social, corremos o risco de ver continuamente crescer o número dos desistentes e engrossar o dos cínicos, transformando a prazo, não muito longo, a presente sociedade numa impiedosa selva, com a vitória do pragmático princípio : a cada um, segundo o seu sucesso, pelo seu desembaraço e pela sua desfaçatez.
Quem estará assim disposto a combater por esta Democracia de festejados pimpões ?
Ai, os espectros da Primeira República ; ai, a História a repetir-se, como farsa ou como tragédia...
Ai, Portugal, Portugal... ainda voltas a Condado !
AV_Lisboa, 27 de Setembro de 2005